
Regras da Composição Fotográfica
Diogo António Sousa
Em muitos casos, fazer uma fotografia implica a tomada de um conjunto de decisões quase instantâneas por parte do fotógrafo que vão muito para além dos aspectos técnicos da fotografia. Na fotografia de rua, por exemplo, o fotógrafo tem apenas fracções de segundo para tomar essas decisões, de forma a organizar os elementos que se deparam em frente da sua câmera. Noutros casos, a composição pode ser um processo muito demorado, de escolha de determinada organização dos objectos ou de escolha de ponto de vista, de forma a criar um determinado efeito visual.
Existem variadas regras que poderão auxiliar o fotógrafo nessa escolha, que são aquilo que correntemente se designam como as regras da composição fotográfica.
Antes de mais, as regras de composição terão de estar sempre relacionadas com a capacidade do fotógrafo de observar o mundo que o rodeia com uma visão única e interessada, e de ter a capacidade de analisar os objectos que estão em frente da sua câmera fotográfica de modo a conseguir criar uma imagem única. Sem esse espírito de observação vivo e único, e se se limitar a procurar replicar as “regras da composição”, o fotógrafo não conseguirá fazer nada mais senão replicar um conjunto de clichés fotográficos.
No presente artigo, exploramos algumas das regras e elementos da composição fotográfica que o poderão ajudar a tornar as suas fotografias ainda mais criativas e surpreendentes.
Felix, Gladys and Rover, New York, 1974 / Elliott Erwitt – Magnum Photos
A regra da secção dourada consiste numa divisão baseada na proporção da média dourada (ou do número dourado de Fibonacci) que pode ser usada como forma de colocação do sujeito da fotografia ou de dividir uma composição em partes harmoniosas.
Regra dos Terços
Uma das regras de composição mais conhecidas, a regra dos terços não é mais do que uma simplificação das proporções da regra da secção dourada. De acordo com a regra dos terços, o ponto de interesse deve ser colocado na intersecção das linhas que dividem o enquadramento em terços de cima para baixo e da esquerda para a direita.
Sendo uma das regras de composição mais amplamente divulgadas, a sua repetida utilização pode conduzir a resultados pouco originais, mas não deixa de ser uma excelente base para organizar os elementos de uma composição fotográfica. De tal forma que alguns fabricantes de câmeras fotográficas dão a possibilidade de visualização de uma grelha no visor da câmera que auxilia o fotógrafo a colocar o ponto de interesse numa das interseções das linhas.
Regra da Simetria Dinâmica
A regra da simetria dinâmica é também uma derivação da regra da secção dourada mas, neste caso, a escolha do zona mais adequada para colocar o ponto de interesse resulta da utilização de linhas diagonais.
O recurso a esta regra implica imaginar uma linha diagonal entre os cantos do visor e uma ou duas rectas que una(m) perpendicularmente esta recta aos cantos remanescentes.
Ponto de Vista
A escolha de um ponto de vista diferente daquele com que usualmente olhamos o mundo ao nosso redor, permite-nos encontrar relações totalmente distintas entre os objectos de uma cena ou ver um objecto de uma forma totalmente distinta.
Há tantas fotografias que são feitas ao nível dos olhos que, quando variamos o ponto de vista, podemos vislumbrar o mundo de uma forma completamente diferente.
André Kertész: Billboard, 1962
Perspectiva
Uma das características principais da fotografia é que através desta representamos um mundo tridimensional num meio bidimensional. A escolha do ponto de vista e da distância focal da objectiva são dois dos factores principais que condicionam a forma como percepcionamos a profundidade ou perspectiva numa imagem.
Uma das formas mais utilizadas para criar a noção de perspectiva é o tamanho relativo de um objecto. Elementos que se repetem, tais como pilares ou outro tipo de linhas que parecem tornar-se progressivamente mais pequenos permitem criar uma noção de profundidade muito acentuada.
O mesmo sucede com as linhas (de estradas, caminhos ou edifícios), que são representadas nas imagens fotográficas como linhas convergentes e que permitem criar pontos de fuga, dando igualmente uma noção de profundidade e perspectiva.
Robert Frank: U.S. 285, New Mexico, 1956
Mining Town, West Virginia, 1936
A distância focal da objectiva utilizada para fazer a fotografia tem igualmente uma grande influência na forma como a profundidade é representada numa imagem.
As objetivas com grandes distâncias focais tendem a comprimir os planos e a tornar as imagens mais planas. Pelo contrário, a utilização de objectivas com pequenas distâncias focais permite criar a aparência de que os elementos no primeiro plano são muito maiores do que na realidade são, assim como permitem dar a aparência de um afastamento entre os planos dando ênfase aos efeitos da perspectiva.
Escala
O tamanho e a escala oferecem inúmeras oportunidades criativas aos fotógrafos. Para o observador das fotografias, a forma de percepcionar o tamanho de um objecto é através da comparação com outros objectos identificáveis que se encontrem presentes na imagem. Sem essa referência, não temos forma de perceber o tamanho real de um objecto.
A figura humana é utilizada reiteradamente como ponto de referência, que nos permite criar uma noção da dimensão dos objectos que a rodeiam.
John Runk: Pine Boards and Frank Stenlund, South Stillwater, Minnesota, 1912
Noutros casos, a ausência de outras referências visuais tornam praticamente impossível alcançar a noção do tamanho real do objecto.
Edward Weston: Hot Coffee, Mojave Desert, 1937
Ponto
Em composição, qualquer objecto, característica de um material, objecto ou até pessoas pode ser um ponto. Um ponto único pode chamar a atenção do observador.
Stephen Shore: Amarillo, Texas, 1972
A esmagadora maioria das fotografias não são feitas em redor de um ponto único. Os pontos podem ser usados para criar relações entre eles, através de linhas virtuais. Estas linhas virtuais têm tanta importância na composição de um fotografia como as linhas reais.
Linhas
Uma das linhas mais importantes na fotografia é a do horizonte, e necessita de uma particular atenção por parte do fotógrafo. Se a linha do horizonte apresentar uma orientação que se revele pouco natural causa perturbação ao observador, causando uma sensação de desequilíbrio.
© William Eggleston
A posição e orientação das linhas numa fotografia assume uma forte influência na sua leitura. Linhas direitas verticais dão uma sensação de equilíbrio, linhas diagonais provocam uma sensação dinâmica e de movimento.
As linhas podem também ser usadas para guiar o nosso olhar na fotografia até ao ponto de interesse principal.
Steve McCurry: Boy in mid-flight, Jodphur, Rajasthan, 1996.
Forma
Formas bem definidas constituem um dos recursos mais eficazes para identificar qualquer objecto ou pessoa.
A fotografia de Edward Weston abaixo constitui um excelente exemplo de exploração da forma de um objecto e de como a iluminação certa lhe pode trazer novos significados.
Pepper n. 30, Edward Weston
Textura
A vista e o tacto são sentidos estritamente relacionados e devido a esta ligação, a representação visual de texturas pode conduzir a uma forte reacção emocional. O fotógrafo pode exagerar as texturas para causar uma determinada emoção ou pode escolher condições de luz que reduzam a aparência da textura quando a mesma não é pretendida. Por exemplo, no caso dos retratos, os diversos tipos de iluminação escolhidos pelo fotógrafo podem acentuar a textura da pele e rugas, acentuando a idade do retratado, ou atenuá-la, através da utilização de uma luz suave e difusa.
A diferença entre texturas pode também ajudar a criar uma sensação de profundidade e perspectiva numa fotografia. Por exemplo, no caso dos retratos.
Padrões
O nosso olhar é naturalmente atraído por padrões. Sejam formas geométricas ou cores, a sua repetição pode ser ser utilizada pelo fotógrafo para criar diferentes ritmos e variações de padrões alternativos numa imagem.
Cor
Os fotógrafos lidam com a luz e sem esta não existe cor. Luz pura, branca, é em fotografia a soma em iguais proporções das três cores primárias (vermelho, verde e azul). As cores complementares daquelas são, respectivamente, o cião, o magenta e o amarelo.
As cores primárias e complementares podem ser usados quer para fins técnicos quer para fins estéticos. Em termos estéticos, cada cor proporciona percepções ou tem significados psicológicos diversos, despertando diferentes tipos de emoções. Também a conjugação de determinadas cores dentro de uma palete pode ter efeitos mais ou menos harmoniosos.
Joel Sternfeld: McLean, Virginia, December 1978
A utilização de algumas cores acrescenta um nível de conteúdo descritivo à fotografia, nomeadamente, permitindo reportá-la a uma cultura específica ou a uma época.
Anne Turyn: 12.17.1960, 1986
Estas são algumas das regras e elementos da composição fotográfica que, no nosso entendimento, poderá começar a explorar de forma criativa nas suas fotografias.