
DESconfinamento: Uma abordagem psicológica à nova normalidade
Luís Carlos Rossa
Com a chegada da pandemia provocada pelo vírus SARS-COV2 veio também um conjunto de medidas com o objetivo de combater este problema que nos afetou a todos sem aviso e sem que estivéssemos preparados. Neste conjunto de medidas, a que mais se destacou foi a do confinamento, que nos levou a vivenciar um conjunto de emoções e sentimentos complexos que certamente não existiriam, ou pelo menos em menor presença, na nossa vida quotidiana.

Agora que já todos passámos por esta situação, é mais fácil identificar os principais problemas que o confinamento pode antever, desde logo o isolamento, a quebra de rendimentos, o medo, a gestão familiar, entre muitos outros. E a nossa reação ou resposta a todos é diferente, sendo que cada pessoa pode agir perante estas situações de maneira diferente, de acordo com o seu enquadramento socioemocional. Por exemplo, há pessoas que estão a contar os dias para voltar ao trabalho, mas há outras que gostam do conforto de trabalhar em casa; pessoas que gostam de ir ao cinema ao contrário das que preferem ficar em casa a ver séries; pessoas que sofrem pela privação de contacto com os seus familiares e amigos mais próximos ao invés do contacto mediado pelas novas tecnologias à distância.
Desta forma, podemos dizer que as nossas emoções têm experienciado uma verdadeira “montanha-russa”. Se tivéssemos de dividir esta “viagem” por fases, diria que ao início sentimos medo, ansiedade e preocupação. De seguida, a falta de orientação e a sensação de estarmos perdidos na adaptação a esta nova rotina em isolamento. Com a chegada da habituação ao confinamento, começam a surgir o tédio e o stresse familiar bem como a apreciação das vantagens de estar em casa. Contudo e agora perante uma nova fase, a de desconfinamento, é natural a sensação de não estarmos preparados ou até termos sentimentos ambivalentes, tais como: por um lado, entusiamo, alívio e esperança, e por outro ansiedade, stresse e preocupação.
Como referi anteriormente, mas agora com uma abordagem psicológica, esta nova fase de desconfinamento pode devolver-nos a sensação de liberdade ou de restauro da nossa autonomia e direito de circular livremente, mas com o dever de ser sempre de forma consciente e segura. Portanto, os níveis de stress e ansiedade existentes durante o confinamento podem vir a ser reestabelecidos com a transmissão da mensagem de segurança e confiança que são passados à população em geral. Concomitantemente, surge também o aumento de perturbações psicológicas a nível emocional como consequência do afastamento social prolongado e da necessidade do mesmo se manter. Ou seja, o desconfinamento traz-nos ainda mais responsabilidade, obrigando-nos a adquirir novos hábitos diários de prevenção que podem vir a ser motivo do aparecimento de obsessões e compulsões, como forma de combater o medo do perigo iminente.
Ao ingressar num período onde se vive esta dicotomia de sensações e, sendo imperativo trabalharmos para o estabelecimento de um equilíbrio biossociopsicológico, onde a prevenção é a palavra-chave, devemos então criar uma resposta de intervenção psicológica especializada, com o objetivo de minimizar o impacto das alterações dos hábitos de vida, higiene e segurança, evitando o desconhecimento e o sofrimento psíquico.
Mais do que retornar à normalidade, temos de adaptar a normalidade aos tempos em que vivemos. Por isso, diria que não é urgente voltar às atividades a que estávamos habituados antes do aparecimento do vírus, mas sim adaptar essas atividades à “nova normalidade” de forma a levarem-nos à tão desejada sensação de alívio, tranquilidade e segurança (acrescendo complexidade às mesmas pois a segurança individual estará dependente de um comportamento de grupo, que por sua vez estará sujeito às experiências, interpretações e crenças de cada uma das pessoas integrantes desse grupo). Devemos também ter em consideração que se, por um lado, o mundo à nossa volta vai começar a funcionar de forma mais abrangente, também alguns de nós terão de continuar mais protegidos, ou confinados, por mais algum tempo (doentes de risco, população idosa, entre outros).
É interessante perceber a importância da fotografia nesta dualidade de circunstâncias. Um recurso expressivo com o objetivo de unir os mundos internos e externos do sujeito.

Podemos assumir a fotografia como um meio (in)formal de terapia e auxílio neste contexto tão diferenciado dos demais. Basta olhar para a fotografia como um momento de lazer, como uma oportunidade de melhorar o relacionamento humano ou até uma forma de obter (auto)conhecimento. Vejamos: por vezes os nossos dias (principalmente em confinamento) são dedicados ao trabalho, à família, ou aos estudos. Mas também é importante ter momentos dedicados a si mesmo, momentos de introspeção, momentos que, não sendo de extrema importância, são prazerosos. E a fotografia permite esses momentos! Tem um pouco de tempo para si? Aproveite para fotografar, verá que se irá sentir melhor! Surge também como um meio de unir pessoas e de criar novos ou fortalecer relacionamentos, seja através de sites de partilha ou de redes sociais, seja através de sessões profissionais ou puramente amadoras. Usufrua deste desconfinamento para, em segurança, usar a fotografia como uma desculpa para sair com amigos e ensaie uma sessão. A fotografia é também um ótimo meio de obter (auto)conhecimento, seja a fotografar sozinho, a olhar para o que o rodeia e para dentro de si, promovendo a reflexão. Ao concentrarmo-nos no que nos rodeia, também olhamos para dentro e percebemos melhor a nossa própria existência. O exercício de procurar a nossa própria linguagem e a seleção de momentos e imagens que produzimos, levam-nos a entender melhor como pensamos. Outra forma de obter conhecimento é através de formações e o Instituto Português da fotografia promove imensos cursos e workshops que pode frequentar de forma a aprender mais sobre aquilo que gosta, de forma segura e sempre benéfica para si.
Termino este artigo com uma série de recomendações da Ordem dos Psicólogos Portugueses que são uteis a todos nós e que devemos ter em consideração nesta nova fase de desconfinamento:
- Lembre-se que é natural que não se sinta “preparado” para desconfinar;
- Seja paciente consigo próprio;
- Volte à rotina anterior com as devidas alterações;
- Faça adaptações (a uma nova “normalidade);
- Dê pequenos passos;
- Concentre-se naquilo que pode controlar;
- Seja assertivo;
- Siga o seu ritmo;
- Procure o “lado positivo”;
- Exercite a sua adaptabilidade;
- Continue a cuidar de si;
- Peça ajuda se precisar.
Artigo de Luís Carlos Rossa, Psicólogo e aluno do Curso Profissional de Fotografia