
Como ultrapassar um bloqueio, um confinamento ou um isolamento
Podia começar por descrever aquilo que todos nós começámos por sentir no final de Março de 2020 – mas todos nós já o sentimos e refletimos demasiadas vezes sobre isso para que eu possa repetir as palavras que tão bem foram usadas por outras pessoas para o descrever. Podia falar sobre as barreiras que criámos que, mais do que físicas, nos afastaram da vontade de criar. Mas essas barreiras já nos parecem familiares ao fim de quase um ano. Já nos deparámos com a culpa de não ter ideias vezes demais. Conhecemo-la! A inércia que sentimos prende-nos os olhos aos ecrãs cheios de estímulos e conteúdos e faz-se pesar numa grande angústia por não sermos capazes de sair desta espiral que nos causa cada vez mais ansiedade. Senti que o bloqueio criativo que costumava ter de vez em quando durante alguns dias agora se prolongava durante largas semanas, afundando-me com ele.
Foi sem perceber que estava a desbloquear-me que comecei a trabalhar no “Incredibly Loud”, o projeto que desenvolvi para apresentar ao IPF em Novembro de 2020 e, com ele, concluir o Curso Profissional. A vontade de entender a ansiedade que me suava as mãos e me arrepiava a pele fez-me querer pesquisar sobre isto. Vi fotografia e vi especialmente como é que outros fotógrafos passavam essas semanas e o que é que criavam (https://www.nytimes.com/2020/04/29/t-magazine/photographers-coronavirus-isolation.html).
Acho que foi aqui que comecei a ver a fotografia de um ponto de vista quase científico, como se representasse o estudo que eu própria me propunha sobre determinado tema. Faço perguntas, construo um método e isso ajuda-me a alcançar resultados, as imagens. Achava eu que seria só isto! Ajudou-me sobretudo a atenuar a angústia e a ansiedade que outrora me impediram de criar.
Refleti sobre isto depois, até bem depois de ter apresentado o projeto e as conclusões só as tive aqui. A fotografia é efetivamente estimulante! Ver, ver, ver! Querer ir à procura e inspirar a frase de Arno Rafael Minkkinen: “If it can happen in your mind, it can happen in your camera”.
Fotografias e texto de Beatriz Pequeno.
4 de Fevereiro de 2021.