
“Com que Lorca dancei”
Ana Bettencourt, Carla Fragata, Helena Marques, Lina Moniz, Luís Carvalhal, Miguel Leitão Jardim e Vera Covolan são os autores das obras da exposição “Com que Lorca dancei” que esteve patente ao público no Espaço Prosa Cultural, entre dia 7 e 28 de outubro.
Esta mostra resulta do trabalho do Grupo de Estudos Artísticos acerca do poema de Federico Garcia Lorca “Pequeño Vals Viénes”.
Partindo desta base comum, a interpretação do poema assumiu narrativas visuais diversas, com uma forte abordagem experimental.
Obras escultóricas, instalações e obras mais estáticas conviveram num mesmo espaço, elástico e inclusivo, que aposta no poder transformador das artes visuais e narrativas.
Uma experiência sensorial que entra na área da expressão individual, múltipla nas linguagens, transversal nos universos plásticos e artísticos: literatura, música e fotografia, conviveram lado a lado contagiando-se, transbordando-se, ampliando-se.
A atmosfera onírica do poema, convidou à interpretação das poéticas fotográficas em caminhos não literais, não unívocos, em que as transparências, os espelhos, os tecidos, as colagens e a tangibilidade dos materiais quotidianos convidam à imersão, à fragilidade e à apropriação da narrativa por parte do observador.
Quanto às obras, uma nota, pelos autores:
“Ressonância”, pelas mãos de Ana Bettencourt “A vida e os sonhos que brincam no meu ser, entre quatro espelhos que ressoam com força neste instante e onde no futuro, a ressonância atingirá a vontade”.
“Um fragmento de manhã”, de Carla Fragata e “Estou sem pele / Na fragilidade que o amor tem / e continuo / Amanhã / Sempre”.
“Desassossego”, de Helena Marques, “O desassossego: o dele e o meu, que sendo tão próprios e distintos nos fazem dançar em paralelos intemporais, na mesma intensidade de um delicioso e tortuoso compasso”.
“To.mas”, por Lina Moniz, “efetua uma reflexão sobre vida, luz, trevas, passados, presentes, possibilidades, perdas, fluidez, constrangimentos, percursos… /Em busca da felicidade. Essa? Saberás quando a sentires. Ou quando não.”
“Do livro morto”, de Luís Carvalhal, “quando, a meio duma crise de meia idade, me impulsionei a criar um diário fotográfico das minhas constantes tentativas de fuga a encarar uma realidade incontornável, de uma simples e ingénua partilha, este poema encontrou as minhas imagens.”
“Siderado”, por Miguel Leitão Jardim, “Um buraco negro tem uma força gravitacional tal, que nada lhe escapa. Menos em fantasia.”
“Lorca’s soundscapes”, e “Auroras Surreais” de Vera Covolan, “O poema “Pequeño Vals Vienés” de Federico Garcia Lorca, musicado por Leonard Cohen e interpretado por Sílvia Pérez Cruz, reverberou em mim como um silêncio profundo ambientado em um lugar escuro, de onde emanavam ondas brilhantes de delicadeza.” E “No salão das ondas sonoras, a inenarrável valsa dançava. / Qual frequência guardava o segredo que a um só coração pertencia? / Mergulhados naquela valsa, reflexos meus. / Oh, valsa de um vestido único!
Amores insuspeitados traduzidos /em auroras surreais.”
Foi assim!
E, libertos dos grilhões da realidade, os processos físicos, estiveram ao serviço de um processo criativo que antecedeu a produção das imagens, em momentos libertadores de criação.
A inauguração, essa, teve casa cheia e os dias remanescentes da exposição foram dignos dos seus criadores.
Texto Carla Fragata e Fotografias Rui Costa