
5 Fontes de Inspiração para a tua Fotografia de Rua
Fotografia Eleonora Signorini
A fotografia de rua constitui uma tradição ininterrupta desde a invenção da própria fotografia. A procura do inesperado, das condições de luz e do enquadramento que permitam transformar uma situação da vida comum numa fotografia que represente um momento histórico ou uma cultura específica, a tentativa de dar ordem ao caos que se apresenta diante dos seus olhos, atraem tanto fotógrafos amadores como profissionais a percorrer as ruas das cidades, numa “caça” incessante.
Tão fascinante como olhar para as fotografias é conhecer as personalidades por detrás das câmeras fotográficas, os seus contextos culturais e processos fotográficos.
Neste artigo, damos a conhecer cinco fotógrafos contemporâneos que, entre outras áreas, exploraram a fotografia de rua ao longo das suas carreiras.
Daidō Moriyama – Japão, 1938
“Para mim as cidades são conjuntos enormes de desejos das pessoas e eu procuro os meus próprios desejos entre eles. Eu corto entre o tempo, vendo o momento”.

Um dos mais influentes fotógrafos japoneses do século XX, o trabalho desenvolvido por este fotógrafo explora temas como a auto-expressão, a desfiguração da paisagem urbana, erotismo e o desaparecimento de tradições japonesas.
Moriyama relembra que uma das principais características da fotografia é o seu amadorismo e outra o anonimato. A maioria das fotografias de Moriyama seguem uma estética de “snapshot” e são feitas como uma câmera compacta do tipo “point and shoot”, que considera ser a mais adequada para a forma como desenvolve o seu trabalho, percorrendo rapidamente a pé ou de carro as ruas das cidades que explora e, igualmente, menos intrusiva.
Bruce Gilden – EUA, 1946
“Se conseguires cheirar a rua ao olhar para a fotografia, é uma fotografia de rua.”

Admirador confesso de Robert Capa, Bruce Gilden adaptou o mote daquele – “se a fotografia não é suficientemente boa é porque não estavas suficientemente perto” – à fotografia de rua.
O facto de ter crescido em Brooklyn numa época em que aquela área de Nova Iorque não era o que é hoje, seguramente moldou a sua forma de fotografar. Gilden percorre as ruas à procura do que intitula como “personagens” e afirma que gosta das suas personagens. Não obstante, a sua abordagem é confrontacional. Utiliza uma câmera fotográfica do tipo “rangefinder”, que segura só com uma mão, enquanto na outra segura um flash ligado à câmera por um cabo. Equipamento pequeno e leve, que lhe permite passar despercebido até que “uma personagem” chame a sua atenção, momento em que, praticamente em cima da pessoa, a fotografa. A maior parte das vezes, as pessoas só se apercebem que foram fotografadas quando são “assaltadas” pela luz do flash.
A utilização de uma objetiva grande angular (que implica que fotografe muito perto dos sujeitos), da luz do flash fora da câmera e um sentido muito apurado de composição, permitem-lhe criar fotografias graficamente potentes e um corpo de trabalho imediatamente reconhecível e que lhe trouxe fama mundial.
Martin Parr – Reino Unido, 1952
Nas palavras de Thomas Weski, Martin Parr é “(…) um cronista da nossa época. Perante a constante enchente de imagens distribuídas pelos média, as suas fotografias oferecem-nos a oportunidade de ver o mundo através da sua perspetiva singular.”

Um olhar pouco atento às fotografias de Martin Parr poder-nos-á levar a pensar que o seu trabalho é apenas sobre o absurdo que nos rodeia e divertimento. Não poderíamos estar mais enganados. Martin Parr é muito mais do que um mero fotógrafo do absurdo, o conjunto do seu trabalho constitui um dos mais brilhantes olhares sobre a sociedade moderna e torna-o um dos artistas mais influentes do mundo nas últimas décadas.
Se quisermos, podemos fazer um paralelismo entre o trabalho de Martin Parr e o dos melhores humoristas britânicos. É um facto que o humor está presente no seu trabalho, mas o seu sentido jovial de humor é utilizado como uma arma de crítica profunda do mundo que nos rodeia.
O foco em temas como o consumo, o lazer e a comunicação, através do filtro da sua particular sensibilidade britânica, tornaram as fotografias de Martin Parr mundialmente famosas e fizeram dele uma das principais fontes de inspiração das mais recentes gerações de fotógrafos.
A utilização do flash é uma das características técnicas mais marcantes da fotografias de Martin Parr que, durante uma parte significativa da sua carreira, utilizou um pouco convencional flash circular na fotografia de rua (técnica que abandonou recentemente para passar a utilizar um flash portátil convencional com modeladores de luz acoplados).
Alex Webb – EUA, 1952
“Só conheço um local ao caminhar nele. O que é que um fotógrafo de rua faz senão caminhar e olhar e esperar e falar, e voltar a olhar e a esperar um pouco mais, tentando permanecer confiante em que o inesperado, o desconhecido, ou o segredo profundo do conhecido estejam à espera ao virar da esquina”.

Alex Webb é um mestre da composição e da cor. As suas fotografias apresentam estruturas complexas, enquadramentos dentro de enquadramentos, janelas sucessivas para novos mundos, em que as zonas de luz e sombra ou outros elementos (tais como postes, portas, arcadas, etc.) são utilizadas para ordenar os elementos dentro da fotografia.
Este fotógrafo, que afirma que mais de noventa por cento das fotografias que faz são lixo, ensina-nos que a prática da fotografia de rua não é fácil, que exige um enorme investimento de tempo e paciência, de tentativa e erro, para alcançar uma fotografia que nos satisfaça.
Conhecer o trabalho de Alex Webb é uma enorme lição sobre luz, composição e cor.
Também para os fotógrafos de rua que gostam de fotografar à noite e lutam com as questões técnicas relacionadas com o balanço de brancos, Alex Webb é um mestre na utilização de diferentes temperaturas de cor na composição da fotografia (veja-se o trabalho desenvolvido por Alex Webb em Istambul, por exemplo).
Trent Parke – Austrália, 1971
“A minha procura pela luz é incessante. A luz transforma o ordinário em algo mágico”.

Um mestre da luz e da técnica fotográfica (desenvolvida durante anos de prática como fotógrafo de desporto), o trabalho fotográfico de Trent Parke caracteriza-se por projetos de longa duração, desenvolvidos na Austrália, que posteriormente são editados e publicados como livros.
Sobretudo nas fotografias que faz em cidade, é comum a utilização das faixas de luz provenientes de aberturas nas estruturas envolventes para destacar elementos na fotografia. Igualmente característica da sua técnica é a utilização de um contraste muito vincado, com pretos muito fortes em contraste com as altas luzes que permitem criar fotografias com uma forte componente gráfica e “guiar” o olhar do observador numa certa direção.
Esperamos que este artigo tenha trazido inspiração e vontade de explorar as ruas! Há muito potencial escondido no quotidiano, basta que aprendas a expressar a tua forma de olhar, ou não fosse esse um dos lemas IPF.
Bons cliques!